terça-feira, 3 de dezembro de 2019

CHACINA - Mortus Operandi


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Sequestro
2. Mariana
3. Somos Todos Iguais
4. Hit
5. Pastor
6. Podres Poesias
7. Na Alma
8. Estado Islâmico (bônus)


Banda:



Allan Big Thunder - Vocais
Miguel Araujo - Guitarras
Jefferson Novaes - Baixo
Billy Dark Machine - Bateria


Ficha Técnica:


Contatos:

Site Oficial:
Instagram:
Assessoria:

Indicação: fãs de Thrash/Death Metal em geral


Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Resistência de fato não é um ato que discursos no Facebook ou filtros resolvam. Saber resistir é aguentar as pancadas que o underground brasileiro dá aos que estão dentro dele (sejam bandas, fãs, selos e assessorias de imprensa) e ir adiante, seja como for, e matando um leão por dia.

Nisso, pode-se dizer que o quarteto CHACINA, de Piracicaba (SP) é um autêntico sobrevivente, já que estão nessa vida a quase 30 anos, e somente agora conseguem lançar seu primeiro álbum, “Mortus Operandi”, que a Heavy Metal Rock colocou nas lojas.


Análise geral:

A bem da verdade, é preciso dar os parabéns a esses sujeitos, pois essa luta de 1990 para cá nunca é algo simples.

O fato é que o grupo tece um Thrash Metal/Crossover intenso e bruto, na linha de bandas dos Estados Unidos, especialmente nomes como NUCLEAR ASSAULT, OVERKILL, e alguns toques à lá SOD e CRO-MAGS. E nas mãos deles, o que poderia dar a ideia de algo mofado ou de prazo de validade vencido é destroçada por algo feroz, cheio de vida e energia, com a agressividade fluindo aos borbotões pelos alto-falantes.

Sim, “Mortus Operandis” é uma boa definição para tímpanos doendo e apitando por horas, e torcicolos resistentes a analgésicos fortes!


Arranjos/composições:

Essa vertente com jeito mais Old School tem que ser preenchida por uma dose enorme de espontaneidade. É preciso ser você mesmo, e eles mostram isso claramente.

Cantando em português, e sabendo usar de elementos do passado (como os riffs mostram constantemente), e certo toque de modernidade (as conduções nos dois bumbos que se ouvem no disco são algo diferente para a aproximação clássica do gênero). Nada extremamente técnico, mas sempre envolvente, e a banda mostra uma habilidade e tanto no tocante a refrães de fácil assimilação.


Qualidade sonora:

Outro ponto em que o grupo soube aliar passado e presente.

Mantendo a sujeira essencial que vem do estilo com uma sonoridade mais moderna e encorpada, cada uma das faixas de “Mortus Operandi” é facilmente entendida e assimilada. Além disso, o grupo não teve frescuras na hora de escolher os timbres de seus instrumentos, sempre com algo que fica entre o novo e o clássico, sem pudor algum. E quem reclamar, possivelmente ouvirá uma bela saraivada de palavras de baixo calão.


Arte gráfica/capa:

Uma arte direta, reta e sem frescuras, mostrando que a banda não veio para brincar, e que transpira toda sua raiva contra a realidade que os cerca. Os temas são bem atuais, para ser sincero.


Destaques musicais:

Basta dizer uma velha gíria para definir o que apresenta “Mortus Operandi” em termos musicais: o pau vai quebrar na casa de Noca!

“Sequestro” é toda montada em cima de riffs de guitarra raivosos e vocais rascantes, sem falar no belo trabalho da bateria (especialmente nos bumbos), com um andamento não tão veloz, enquanto “Mariana” segue com tempos intensos e refreados (permitindo que o baixo exiba passagens bem legais sob o refrão). Curta e extremamente “SÓDica” é “Somos Todos Iguais”, uma pancadaria extrema, apesar do andamento refreado. Em “Hit”, a velocidade aumenta, e ao mesmo tempo, a agressividade musical do grupo se torna mais ácida, com guitarras tecendo riffs interessantes, e “Pastor” segue a mesma pegada (um festival de tempos 1 X 1 nervosos da bateria, acompanhada de vocais agressivos de primeira). O tempo mais uma vez desacelera em “Podres Poesias”, de uma forma totalmente HxCxNxY, enquanto “Na Alma” é moshpit certo por conta de sua levada empolgante e intensa (típica música que vai dar torcicolos e causar contusões nos shows da banda). E fechando, tem-se a faixa bônus “Estado Islâmico”, exatos 1:51 de rispidez e Thrashcore nervoso, alimentado por guitarras e vocais insanos.


Conclusão:

Se existisse justiça dentro do cenário, o CHACINA receberia aplausos efusivos pelo que fizeram em “Mortus Operandi”, já que souberam trazer toda sua fluência Thrashcore do passado para o presente sem pudores.

Parabéns, pois vocês, por tudo, são a verdadeira resistência. O resto é conversa fiada...


Nota: 8,5/10,0


Estado Islâmico

DOGMA BLUE - Quietus


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Disorder
2. Quietus
3. No Garden
4. Dissolution
5. Mucamba


Banda:



Marcelo Paes - Vocais
Tales Ribeiro - Guitarras
Rodrigo Kolb - Guitarras
Roberto Greboggy - Baixo
André Prevedello - Bateria


Ficha Técnica:


Contatos:

Assessoria: http://roadie-metal.com/press/ (Roadie Metal Press)

Indicação: fãs de Metal Tradicional, Hard Rock clássico dos anos 70, e outros


Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Cada vez mais as bandas de Metal estão investindo em gravações muito cedo, sem lhes dar o devido tempo de amadurecer as ideias. Em um mundo onde tudo se tornou sinônimo de “ser o mais veloz” em termos de tudo, grupos jovens acabam indo cedo demais para o estúdio, o que pode resultar em um resultado ruim.

Mas no caso do quinteto curitibano DOGMA BLUE, isso não chega a ser algo grave. Embora “Quietus”, seu primeiro EP, mostre pontos que necessitem de amadurecimento, já se tem a clara visão de seu potencial.


Análise geral:

Apesar de ainda bem jovem, o quinteto é composto de músicos já com calos da experiência. E por isso, percebe-se uma banda que possui influências musicais bem diversificadas que acabam se calcificando em algo que fica entre o Metal tradicional com algo de Thrash/Groove Metal. E isso foge ao modelo que tantos adotam no Brasil (onde ou se quer ser da NWOBHM ou do Thrash Metal alemão), o que deixa claro que o grupo tem personalidade. Aliás, é preciso dizer que melodia, feeling e alguma dose de agressividade, fórmula já bem batida, nas mãos deles ganham uma energia e frescor novos, além dos refrães serem muito bons.

O que precisa amadurecer: os vocais podem ser trabalhados de forma melhor (a voz é boa, só precisa mesmo de mais ensaios para encaixar em 100% na base instrumental), mas alguns ensaios e shows devem colocar tudo nos lugares.


Arranjos/composições:

Eis o ponto onde o quinteto ganha pontos: eles sabem arranjar suas músicas muito bem.

O que guia a banda é o feeling, e não a necessidade de exibir virtuosismo. Logo, a consequência é óbvia: melodias espontâneas, técnica em nível sóbrio, além de ótimas mudanças de ritmo e ambientações.


Qualidade sonora:

Em termos de sonoridade, “Quietus” fica devendo um pouco.

Por terem tentado buscar algo mais seco e que evidenciasse a agressividade, a impressão em certos momentos é de algo oco. Está pesado, claro e inteligível, mas carece de algo mais pesado e mesmo moderno, pois o trabalho deles pede isso.

Não está ruim, longe disso, mas poderia ser bem melhor.


Arte gráfica/capa:

Nesse ponto, a banda caprichou.

O uso da capa com uma paisagem desolada pela guerra é um artifício sempre interessante, e o esmero ao usar o formato Digipack, foto com tudo correto.


Destaques musicais:

A musicalidade híbrida e espontânea da banda rende muitos pontos, justamente porque é livre de concepções ou ideias desgastadas pelo uso.

“Disorder” é cheia de peso e agressividade, mas apresentando uma estética simples e elegante de baixo e bateria (basta olhar as debulhadas em vários momentos), enquanto “Quietus” possui uma vibração suja que lembra um pouco o Hard Rock dos anos 70 (embora no peso das guitarras seja evidente uma forte dose de groove noventista), elementos que também permeiam a ambientação azeda e “sabbathica” de “No Garden” (que foi o primeiro Single da banda, lançado ano passado). Em “Dissolution”, aquela famosa fórmula de ‘início balada, peso e agressividade de certo ponto em diante’, que funciona muito bem com o grupo. E “Mucamba” tem um jeito Hard ‘n’ Heavy de primeira, com algo de acessibilidade em alguns momentos.

Pode-se assim aferir que “Quietus” é um bom lançamento, acima da média.


Conclusão:

Se “Quietus” ainda não revela todo o potencial do grupo, é certo que o DOGMA BLUE pode ser considerado uma revelação do cenário. É só aparar algumas arestas, acertar os vocais, e sai debaixo!

No mais, sejam bem vindos, e boa sorte!


Nota: 7,7/10,0


Quietus



No Garden

KAMALA - Live in France


Ano: 2019
Tipo: Disco ao Vivo
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Internal Peace
2. Open Door
3. Believe
4. Stay With Me
5. Take Away
6. My Religion
7. Suicidal Attack
8. Mantra


Banda:


Raphael Olmos - Vocais, Guitarras
Allan Malavasi - Vocais, Baixo
Isabela Moraes - Bateria


Ficha Técnica:

Ricardo Biancarelli - Mixagem, Masterização
Mathieu Monpontet - Gravação, Captação ao Vivo


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria:

Indicação: fãs de Thrash/Death Metal em geral


Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Toda banda que não esteja restrita a trabalhos de estúdio (algo comum aos projetos no formato “one man band”) tem, por uma obrigação imposta por uma tradição de quase 5 décadas, lançar um disco ao vivo. Nos anos 80, um disco ao vivo ruim poderia implicar no final da carreira de uma banda, ou então a colocava em um patamar mais elevado. Basta dizer que “Alive I” do KISS e “Live After Death” do IRON MAIDEN foram importantíssimos para a carreira de ambas.

Seguindo esta tradição, o trio KAMALA, de Campinas (SP) acaba de lançar seu primeiro registro ao vivo, chamado simplesmente de “Live in France”.


Análise geral:

Depois de cinco discos de estúdio e várias turnês na França, o trio mostra a maturidade, bem como a capacidade de fazer um show ao vivo de primeira.

“Live in France” vem coroar o momento em que a formação está consolidada desde o lançamento de “Eyes of Creation” (2019), coesa e firme. E o mais importante: a sonoridade ao vivo do grupo não perde em nada, e ganha aquela energia crua e intensa de suas apresentações.

E verdade seja dita: o Thrash/Death Metal do grupo ao vivo é algo realmente insano!


Repertório:

Discos ao vivo chamam a atenção pelo “setlist” que ele apresenta. E é fato que “Live in France” foca em canções de “Eyes of Creation” e “Mantra”, e apenas uma dos discos antigos (que é “Take Away” de “Kamala”), mas também seria impossível condensar tanto em material em um disco simples. Além do mais, discos ao vivo tem material focado no último lançamento da banda (em cuja turnê de divulgação a banda se encontra). Óbvio que poderia ter canções de “The Seven Deadly Chakras” (2012) e “Fractal” (2009) fossem bem vindas. O que só seria possível em um duplo ao vivo, logo, o repertório está ótimo.

Aliás, se percebe que a banda ao vivo sabe interagir com o público, como a apresentação dos integrantes durante “Mantra”. E os presentes participam cantando em alguns momentos.

KAMALA ao vivo

Qualidade sonora:

Em geral, captar a energia de shows ao vivo e conseguir coloca-la em discos sempre foi uma dificuldade absurda, mesmo com as modernas tecnologias digitais. Mas em “Live in France”, se percebe completamente a “aovivocidade” da banda, mas sem que sua música soe embolada. Nada disso, tudo está limpo e cristalino, mas bruto e pesado.

Aos mais chatos em termos de detalhes, fica claro que durante os solos de guitarra, as bases realmente desaparecem, mostrando que os famosos “overdubs” são poucos, e de forma que a aura “live” não seja prejudicada.

Ótimo trabalho de Ricardo Biancarelli na mixagem e masterização, e de Mathieu Monpontet na gravação.


Arte gráfica/capa:

O grupo optou por uma arte bem simples, com fundo preto e o símbolo da banda pintado com as cores da bandeira francesa. Simples, direto e reto, para que todas as atenções fiquem apenas na música.


Destaques musicais:

Para quem conhece o trio, sabe que eles conseguem fundir uma pancadaria Thrash/Death Metal intensa com uma aura extremamente positiva. E isso é possível se sentido em todas as canções de “Live in France”.

De “Internal Peace” (uma pancadaria insana, com riffs raivosos, boas mudanças de ritmo, e mudanças de vozes), passando pela energia intensa de “Open Door” e de “Believe” (ótimas variações de andamento, mostrando a força de baixo e bateria), a pegada um pouquinho mais Thrash Metal Old School de “Stay With Me” (que ganhou mais agressividade por conta da evolução que a banda sofreu da época até hoje), a a sinuosa e bruta “Take Away” (baixo e guitarras muito bem, e que ótimo trabalho nos dois bumbos) e “My Religion” (as partes mais lentas mostram a aura mais moderna da banda, algo que foi surgindo em seus trabalhos de forma gradual), além dos hinos “Suicidal Attack” e “Mantra” (que fecha o disco e é daquelas para marcar os ouvidos e os ossos, sem falar na apresentação dos integrantes). Se sobrou algo do pescoço, é melhor usar gelo.

Basicamente, a impressão que reina após o final de “Live in France” é a mesma de discos ao vivo simples clássicos: por que raios não foi um disco duplo?


Conclusão:

O KAMALA encerra um ciclo com “Live in France”, e já começa a se preparar para voos mais altos.

Basicamente, “Live in France” os coloca no time das bandas que não cabem mais no Brasil.


Nota: 9,2/10,0


Mantra