quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Potencial Comercial: ou porque o Metal brasileiro está se apequenando...


Por “Metal Mark” Garcia


Nesses tempos em que crenças pessoais e ideologias militantes assolam o Metal, muitas bandas têm metido os pés pelas mãos e caído em arapucas. Por isso, pouquíssimos são aqueles que poderiam entrar no time de SEPULTURA, ANGRA e KRISIUN como bandas brasileiras que têm relevância no mercado internacional. E a ideia é simples: todos têm aniquilado seu potencial comercial por motivos a serem dissertados nesse texto.

Por “potencial comercial”, entenda-se a capacidade de uma banda de Metal tem de crescer sob certas condições, e assim, alcançar sucesso comercial (ou seja, em vendas de discos e merchandising). Ou seja, é quanto a banda pode crescer tendo os devidos investimentos.

Ilustrando o que quero dizer por meio de alguns exemplos históricos.

Nos anos 80, era muito comum que bandas que vinham de selos independentes ter uma sonoridade com energia e mais crua, e ao entrarem em uma grande gravadora, sofriam alterações. As gravadoras contratavam produtores para moldarem (o mais certo seria “polir”) a música de determinado grupo ao público vigente, o que era uma estratégia que podia render bons frutos, mas que também poderia significar fracasso. Nisso, as gravadoras estavam tentando maximizar o potencial comercial desses grupos, mas obviamente erravam mais que acertavam. Não era uma questão bem X mal, mas meramente financeira.

RAVEN: Este é um ótimo exemplo no sentido negativo de potencial comercial.

RAVEN antes da era da Atlantic Records

O trio inglês vinha em uma ascensão em termos de público desde que lançaram “Rock Until You Drop”, e com 3 discos, era uma potência dentro do underground, tanto que o METALLICA foi banda de abertura na época da “Kill ‘em All For One Tour”. Mas bastou entrarem em uma “major” (a Atlantic Records) que fizeram “Stay Hard” (em 1985, para se exato), um disco que assustou os fãs da época, pois era bem mais voltado ao que fazia sucesso no mercado norte-americano (ou seja, Hard/Glam como MÖTLEY CRÜE, RATT e outros) que a seu jeito Hard/Heavy clássico. Foi um golpe duro aos fãs mais antigos, e a situação piorou ainda mais com “The Pack is Back” (de 1986). A coisa foi tão feia que a banda, que poderia ter sido um novo IRON MAIDEN ou JUDAS PRIEST em termos de sucesso (sim, eles tinham potencial para tanto) ficou apequenada pelo resto de sua carreira. Se de um lado perderam muitos fãs (que os trocaram por bandas emergentes daqueles anos), não conseguiram criar uma base sólida de novos fãs que os permitissem crescer mais. O potencial comercial do grupo (que não era pequeno) foi perdido por uma enorme falta de estratégia de como lidar com a banda e sua música. E se completou com a perda do “timing”, pois a NWOBHM estava perdendo forças e o Thrash Metal começava a crescer e ter apoio das gravadoras grandes. Basta ver o sucesso comercial de “Master of Puppets”, também de 1986). O RAVEN teve que se contentar em ser uma banda “Cult” pelo resto de sua existência, mesmo fazendo ótimos discos de 1987 para cá.

Capa de “The Pack is Back”. Reparem na diferença de visual
entre o passado e esse disco. Mais Glam impossível.

Outros como PICTURE (tanto que “Traitor”, de 1985, eclipsou quase tudo que a banda havia feito de bom antes), SAVATAGE (“Fight for the Rock”, de 1986 só não causou estragos piores porque, um ano depois, lançaram o ótimo “Hall of the Mountain King”, mas nunca cresceram o que podiam) caíram nessa mesma arapuca. O hoje chamado clássico do ACCEPT, “Metal Heart” (de 1985), teve uma recepção cheia de narizes torcidos por parte dos fãs naqueles tempos por conta de elementos mais acessíveis em suas músicas.

Uma clara mostra que os fãs desse tipo de Metal não aceitavam mudanças, e como o próprio público estava mudando (lembrando: a NWOBHM e bandas de Metal tradicional em geral estavam perdendo espaço para o Thrash Metal, enquanto o Hard/Glam e o AOR reinavam supremos nas paradas de sucesso).

Exemplo positivo: METALLICA.

RAVEN e METALLICA durante a  “Kill ‘em All For One Tour”

Talvez seja o maior exemplo de todos de quem sabe aproveitar oportunidades.

Disco após disco, sempre cresceram até o sucesso de “Metallica”, mas se observarmos direito, eles sempre usaram estratégias de marketing interessantes, e nunca perderam o “timing”. Estavam sempre no lugar certo, na hora certa e fazendo a coisa certa. Mesmo as idas na direção oposta (o fato de não gravarem vídeos, os discursos contra o Hard/AOR que infestava o cenário dos EUA), e mesmo as brigas com Dave Mustaine na imprensa e a (infeliz) passagem de Cliff Burton os ajudou. Óbvio que tudo isso sempre embasado em músicas de alto nível. Aliás, a banda não fazia concessões, era do jeito deles ou não era (apenas em “Metallica” isso foi mudado, pois a visão de Bob Rock os ajudou a chegarem no próximo nível).

Fonte: Metalhead Zone

O mesmo vale para KISS (ou acreditam que a presença de Bob Ezrin na produção de “Destroyer”, a guinada para o Hard/Glam nos anos 80, o final da fase mascarada, e mesmo a turnê com a formação original e usando as maquiagens não foram estratégias bem pensadas?), IRON MAIDEN (na biografia “Run to the Hills” se vê como as presenças de Rod Smallwood e de Martin Birch foram importantes em termos de estratégia e mesmo de música) e outros que estão ou no time dos gigantes ou dos grandes. Mesmo o AC/DC com toda sua atitude ‘fuck you’ teve que se curvar diante da sabedoria comercial de “Mutt” Lange (duvido que queriam ter que trabalhar em empregos comuns na Austrália depois de terem tantos discos lançados), o que fez da trinca “Highway to Hell”, “Back in Black” e “For Those About to Rock” um sucesso e os permitiu alcançar o tão almejado estrelato (se duvidam, procurem lear a biografia da banda escrita por Mick Wall). 

TRADUZINDO: É preciso algo além da música em si para se chegar lá. É preciso estratégia de marketing, e tudo mais que for possível para que a banda atinja o maior número de fãs possível. Mesmo algumas polêmicas podem ajudar (Ozzy que o diga).

Estabelecida a definição de potencial comercial e seus exemplos, podemos analisar um momento histórico problemático: a atual fragmentação do cenário nacional em torno de ideologias políticas. Elas podem ser abordadas como um problema severo e perigosas ao potencial comercial de qualquer grupo (menos os que são gigantes, pois estão acima do bem e do mal, onde as instabilidades não os atingem).

No Brasil, vemos um tiroteio ideológico de todos os lados (que piorou muito após a eleição presidencial de 2018). 

Uns exigem que as bandas se postem politicamente (como se alguém fosse obrigado a isso); o outro lado, por sua vez, defende que o Metal não possui uma ideologia partidária. Em ambos os casos, um bom profissional diria que não se deve cair nesse tipo de armadilha, justamente para não se limitar em termos de público. Em uma visão simplesmente pragmática em termos de marketing, não existem fãs de esquerda ou direita em termos financeiros, apenas fãs que pagam pelo trabalho das bandas. Repetindo de forma mais simplificada e clara: não existem fãs opressores e nem fãs oprimidos, existem fãs!

Vejam bem: no momento em que os ânimos estão divididos entre esquerda e direita, exigir que uma banda se posicione de um lado nessa briguinhas de crianças no pátio de escola (perdoem-me ser sincero, mas é a impressão que tenho) é desagradar um ou outro segmento. A conseqüência óbvia é a perda de uma fatia de público, e isso em uma época em que a venda de discos e audições via streaming não rendem quase nada para os grupos. Estes sobrevivem com venda de merchandising e cachê de shows (aquelas que são suficientemente grandes para tanto), logo, isso significa a perda de dinheiro, e assim, a banda vai definhando até sumir de cena. Sinto muito, mas sentimentalismos underground (e ideologias) não pagam as contas... E ninguém fica gastando do próprio bolso ad infinitum sem ter alguma compensação, a menos tenha ótimas condições (o que fere o opositor de um dos segmentos citados).

Se isso ocorresse nos anos 80, no auge do poder das grandes gravadoras, é certo que alguém delas daria uma bela bronca em engraçadinhos do tipo. Sim, isso daria um belo chute nos fundilhos de quem queria se posicionar politicamente. A gravadora queria lucrar, logo, nada mais simples que dispensar os insatisfeitos com suas decisões, pois eles, se não vendem, são dispensáveis. 

Sendo sincero: todas as bandas que se meteram nesse balaio de gato ideológico deram um imenso tiro no pé (se é que sobrou algo do pé depois de tantas palhaçadas). Em uma perspectiva futura, o número de audições nas plataformas digitais diminuirá, e a mesma coisa pode ocorrer com a presença do público em shows. Se as mesmas já tocam fora, é possível minimizar esse dano, mas as restritas ao Brasil vão sentir isso mais duramente. Danificaram a potencialidade de angariar público, ou seja, de aumentar a receita financeira que oxigena a carreira do grupo, pois nenhum fã gosta de ser ofendido em suas pessoalidades (ao qual todos têm direito, mesmo que o leitor discorde disso). Talvez por isso uma das bandas que mais se posicionou politicamente antes do pleito do ano passado tenha encerrado as atividades: viram a conseqüência dos próprios atos. Tanto é assim que viraram piada nas redes sociais, até bem mais que foram apoiados. Perderam mais que ganharam, não importam ideologias.

KORZUS
Óbvio que este autor sabe (e viu) da tal lista de bandas ditas “antifas” que andou rolando pela internet há alguns meses, e que traduzindo em miúdos, são as que se posicionaram politicamente em prol da esquerda. Por tudo que se pode ver, o encolhimento comercial de cada uma delas é questão de tempo. Inclusive os músicos destas bandas estão marcados por uma enorme parcela do público, que pelo visto, os perseguirá de tal forma que tudo que tentem pode dar burros n’água. Repetindo: comercialmente, uma banda não tem fãs de esquerda ou direita, mas tem fãs. Ao autor da lista, se ler estas palavras, digo que seu tiro saiu pela culatra: o número de pessoas que afirmou que usará esta lista para evitar essas bandas é enorme. Ou seja, você jogou contra o próprio patrimônio, ou seja, contra o Metal. Se tem banda, se é produtor, enfim, alguém que depende um pouco que seja de capital de giro, errou, ainda mais em tempos que sigilo é algo praticamente inexistente em redes sociais.

Há aqueles que desejam ficar fora dessa estória, inclusive com declarações óbvias. 

O fato de KORZUS, TORTURE SQUAD e outros estarem com essa posição neutra não significa omissão ou que estão pactuando com o atual governo, mas que estão, muito provavelmente, preocupados com suas carreiras a longo prazo. E porque (sabiamente) discordam de ambos os lados nessa peleja cômica (ambas as bandas falaram isso com todas as palavras nos eventos em que existiram manifestações políticas por parte dos fãs, e foram hostilizadas na internet posteriormente). E como dito antes, ninguém tem que ter posição política explícita, a lei garante isso. Se posicionar pró ou contra o atual governo do Brasil, pró ou contra os anteriores, vai terminar em desgaste com o público e perdas que podem não ser reparadas, a menos que as bandas tenham suporte financeiro do exterior (ou seja, já tenha público cativo no exterior).

O melhor conselho: deixar que a música falar por si (para as bandas que gostam desse tipo de tema) sem alimentar polêmicas desnecessárias nesse assunto, e não fazer de seus shows comícios. 

Aliás, uma crítica: qual banda dessas que foi chamada para fazer comício político? Há anos o Metal sempre é ignorado por partidos e candidatos políticos, enquanto pagam fortunas por artistas mais populares. Sim, nenhum deles vai lá sem ganhar grana ou alguma divulgação (lembremos que a MPB está, criativamente falando, falida há anos, logo, seus artistas precisam se mostrar vez por outra, pois musicalmente é um estilo esgotado). Deixem de ser bobocas, façam música, toquem e pronto, ninguém quer saber de suas vidas ou ideologias, quanto mais de suas opiniões partidárias ainda mais quando tentam enfiar isso goela abaixo dos outros, em uma mostra de que não sabem viver em democracia e não respeitam o direito de expressão e pensamento alheios. Querem o direito para si, mas nunca para o outro que não quer bater palmas para maluco dançar nessa tragicomédia em que transformaram o cenário. Inclusive o Heavy Metal Thunder Brasil fica tendo que lidar com denúncias, porque este autor se atreve a falar uma verdade que poucos querem ouvir: reclamam de censura, mas são os piores censores; reclamam de quem não se posiciona politicamente, mas querem censurar quem não está ao lado deles. 

Aliás, cabe dizer que bandas como BEHEMOTH, EMPEROR, DISSECTION, BURZUM e outras entraram na mira dessa turma. Bandas que os influenciaram como músicos, mas hoje, cospem no prato que um dia comeram, como se sua música não refletisse cada uma delas.

Pensem: existem conservadores e liberais, pessoas de direta e esquerda, entre membros de bandas famosas. Aliás, não é porque apóia seu pensamento político que o músico/grupo se torna bom (ou se torna ruim por discordar de você). Óbvio que muitos músicos do primeiro time já têm públicas suas opções políticas (ou permitem as pessoas pensar dessa forma), mas eles já estão acima do bem e do mal. Kirk Hammet, Dave Mustaine, Tom Araya, Alice Cooper, Gene Simmons, Kerry King... A lista é longa, mas vejam os nomes e de que bandas eles são: só de grupos já consagrados, que qualquer polêmica que pense o leitor, não as atinge. E isso não se aplica a bandas que precisam criar uma sólida base de fãs, que quase têm que mendigar “likes” e visualizações nas mídias sociais. Tapinhas nas costas de correligionários não bancam sua banda, mas o dinheiro dos fãs.

Óbvio que todos podem (e devem ter) um pensamento político, e mesmo partidário, pois é direto constituído. Agora devem manter isso em seus devidos particulares, sem agredirem a outros (como teimam em fazer no Brasil) por pensarem diferentes, pois fãs agredidos são fãs que não pagam pelos seus trabalhos, são fãs que não vão mais aos seus eventos, não usam suas camisas, não ouvem suas músicas. E se serve de termômetro, são menos “likes” em suas páginas no Facebook.

Se alguém viu partidarismo aqui, lhes direi apenas para tirarem a venda dos olhos. Estou falando de aspectos financeiros e adjacências, e sendo mais honesto que muitos bobocas políticos são. Não bato palmas para maluco dançar como alguns professores falidos fazem, te vendendo luxo como lixo em uma série de mentiras em que eles mesmos não acreditam. Desculpem, mas ninguém é fascista-machista-homofóbico e outros gritos de ordem vazios só porque discorda de vocês e de sua agenda ideológica, e nem me venham com perguntas estilo “você acha que...”, pois não caio em arapucas do tipo. Este autor é PRÓ METAL, entenderam? P-R-Ó-M-E-T-A-L, letra por letra, para ver se soletrando suas mentes emperradas pegam no tranco! Não preciso mandar mensagens subjetivas, mando na lata!


Cabe um testemunho: nos anos 80, existiam diferenças políticas entre os fãs. Isso sempre existiu. O que não existia: NINGUÉM brigava com NINGUÉM por causa disso. Basicamente, a geração dos nascidos nos anos 70 parece ter, por conta da educação familiar, entendido o bom e velho “me respeite para ser respeitado”. Não são todos (tem uns velhos por aí que andam aprontando das suas), mas era mais ou menos por aí.

Pronto, tudo preto no branco. Agora, se querem continuar com isso, sigam em frente. Escrevi e avisei, e não posso evitar que se destruam, mas não me envolvam em sua pantomima infantil e cega. Não quero e não vou participar de seus joguinhos de intrigas, fofocas e outros!

Encerrando: a banda ter os pés no chão e avaliar suas possibilidades, o público-alvo e a buscar formas de despertar a curiosidade para começar a estender sua base de fãs, e evitar mexer em temas que dividam seu público (como política, militâncias e partidarismos). No mais, que cada um cuide de sua carreira conforme desejar. Aliás, conservador, liberal ou outro são meros rótulos, nos quais não me encaixo. Se você vê este autor em um deles, melhor você ir ao psiquiatra, pois está doente e vazio.



No mais, o Metal é para todos, quer gostem, quer não gostem... Aliás, aos que não gostaram, a porta da rua é serventia da casa.

Passar bem!