2017
Selo: Mutilation Records
Nacional
Nota: 10,0/10,0
Tracklist:
1. Ymaguare
2. Novus Orbis Profanum
3. Conjupuyaras
4. Antípodas
5. Ossário
6. 1542
7. Araka’e
8. Bestiários Humanos
Banda:
Hécate - Vocais, teclados
Thormianak - Guitarras, baixo
Nygrom - Bateria
Contatos:
Site Oficial: http://miasthenia.com/
Facebook: http://www.facebook.com/miasthenia
Twitter:
Instagram:
Bandcamp: https://miasthenia.bandcamp.com/
Assessoria: http://www.metalmedia.com.br/miasthenia/ (Metal Media)
E-mail: miasthenia.horda@gmail.com
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
De alguns anos para cá, temos o surgimento de um movimento interessante no Brasil: o Levante do Metal Nativo, ou seja, as bandas que são conscientes das lendas mitológicas e cultura Pré-Colombiana. E elas têm a necessidade de levar adiante esse legado cultural da Alma Mater brasileira, tão judiada e esquecida por intelectuais e mesmo pelo público brasileiro de Metal.
E um dos nomes pioneiros nessa revolta é o do trio de Brasília MIASTHENIA, que há 23 anos luta no underground, sempre fazendo trabalhos relevantes e de bom gosto, e que chega com seu quinto álbum, “Antípodas”, que aqui é resenhado.
Fugindo da “capetologia” barata e manjada, o trio mergulha fundo nas lendas e mitos da América Pré-Colombiana, sempre embalados em um Pagan/Black Metal intenso e soturno, bem trabalhado e com excelentes melodias. A grande diferença é que em “Antípodas”, o grupo está explorando ainda mais seu lado melodioso, e mesmo duetos entre vozes masculinas e femininas podem ser notados. Se o simplismo nunca foi a tônica do trabalho musical do MIASTHENIA, mesmo com canções um pouco mais curtas, ele não se faz presente. E a energia crua e indomável do grupo se encontra em cada um dos detalhes do disco.
Em resumo: “Antípodas”é um disco maravilhoso, criativo e de altíssimo nível!
A produção é do veterano Caio “Dynahead” Cortonesi, que também fez a mixagem e masterização, tudo no BroadBand Studio, em Brasília. E mais uma vez, a qualidade sonora é muito boa, seca e bruta, mas sempre com aquela crueza essencial para o trabalho do grupo. Mas nem por isso é difícil de compreender os arranjos e melodias das canções, as linhas melódicas são bem definidas e os timbres instrumentais foram escolhidos com sabedoria.
A arte visual é assinada Márcio Menezes (da Blasphemator Art), com layout e encartes de Slanderer Crowley. Tudo transpira aquela aura de resistência nativa, da cultura perdida que clama por revide. E como ficou bonita nesses tons de verde. E se repararem direito, o Digipack possui contrastes em alto relevo na capa.
Hécate nas gravações do vídeo de “Conjupuyaras” |
“Ymaguare” é uma introdução grandiosa e cheia de corais indígenas, mostrando a necessidade de se opor para se manter íntegro, que é seguida por “Novus Orbis Profanum” (ou “Novo Mundo Profano”), uma música cheia de linhas melódicas bem feitas, rica em grandes momentos de teclados e belas melodias das guitarras, tudo para mostrar a vinda dos colonizadores que vieram em busca de riquezas. Em “Conjupuyaras”, a brutalidade tétrica do grupo se alia a uma pegada mais dinâmica e alguns momentos ainda mais agressivos, mas reparem como os vocais estão de primeira (assim como baixo e bateria), tudo para contar a luta de Orellana contra a resistência por parte das Icamiabas (tribo guerreira formada exclusivamente de mulheres, conforme narrado por Frei Gaspar de Carvajal, um religioso que acompanhava Orellana). Em “Antípodas”, a banda mostra uma canção com uma forte ambientação sinistra, algo na sua pegada mais antiga, cheia de belos riffs de guitarra, tudo para que se compreenda que os colonizadores não conseguiam compreender a cultura dos povos da América, apenas sendo atormentado por pesadelos terríveis à luz da fé cristã, onde eram atormentados. A saga do conquistador continua em “Ossário”, cheia de uma energia crua envolvente, onde mais uma vez as guitarras e teclados se mesclam em arranjos lúgubres, evocando os locais sagrados dos sacrifícios humanos das Amazonas, cheios de ossos. “1542” é o ano em que a jornada de Orellana se encerra na foz do Rio Amazonas, na Ilha de Marajó, onde ainda se encontra em fuga das Icamiabas, buscando retornar ao Velho Mundo, mas sob as maldições e pragas de suas perseguidoras que os acompanharão pelo resto da vida, e segue-se uma canção soturna e opressiva, onde os teclados e vocais ganham uma dimensão de maior destaque. Mais tradicionais no estilo da banda são “Araka’e” (arrasadora e rápida, com um trabalho excelente de baixo e bateria) e “Bestiários Humanos” (mais lenta, densa e introspectiva em seu início, mas logo ganha mais agressividade e energia, com guitarras ótimas e vocais rasgados incríveis), que apesar de aparentemente não estarem ligadas ao tronco principal das letras do disco, mostram a resistência dos povos pagãos da América do Sul aos ritos e costumes dos conquistadores.
O MIASTHENIA é sempre excelente, um dos grandes nomes do Metal do Brasil. No fundo, “Antípodas” não só coroa um momento de pura criatividade da banda, mas mostra que o trabalho do grupo é grande demais para o Brasil.
E segue a resistência do Metal Nativo!