Ano: 1994
Tipo: Full Length
Selo: Deathlike Silence Records / Century Media Records
Importado
Texto: “Metal Mark” Garcia
Introdução/Contexto histórico: Os anos entre 1990 e 1994 foram especiais para as vertentes extremas do Metal. Nesta época, junto com atitudes polêmicas (como os incêndios em igrejas, violações de túmulos e assassinatos), a Noruega fervia em termos de Black Metal. Mesmo se o famoso Inner Circle não fosse mais que um grupo de amigos que tocavam o gênero, havia algo novo sendo criado. Dado como um estilo morto no final dos anos 80 (já que a maioria de seus representantes transitara ou estava transitando para outros gêneros dentro do Metal), o Black Metal ainda estava vivo, sendo reciclado para sua definitiva canonização musical. E apesar dos atrasos causados por falta de recursos para gravar (o que pode ser comprovado neste link), pelo suicídio de Per Yngve Ohlin (o lendário vocalista Dead) em 08/04/1991, e pelo assassinato de Øystein “Euronymous” Aarseth (guitarrista/mentor do grupo) em 10/08/1993, é fato mais que comprovado que “De Mysteriis Dom Sathanas”, primeiro álbum do quarteto norueguês MAYHEM, é uma planta baixa de como se faz Black Metal.
Euronymous |
Arranjos/composições: A principal característica musical de “De Mysteriis Dom Sathanas” é justamente a aura macabra de suas canções. Tudo porque a forma de tocar riffs de Euronymous é sombria, impactante e extremamente simples de ser assimilada. Não há uma parte de guitarra desse disco que não seja marcante, que não fique na mente do ouvinte de forma permanente. E isso reforçado pelo ótimo trabalho de bateria (que apesar de ainda não mostrar tudo que sabe, Hellhammer já mostra excelente técnica de caixa e bumbos). Como a atitude de Euronymous em relação à morte de Dead causou rusgas entre ele e o baixista Jørn “Necrobutcher” Stubberud (tanto que ambos não se falaram mais até a morte do guitarrista), o grupo chamou Varg Vikernes para tocar as partes de baixo (ironicamente, seria ele o assassino de Euronymous meses depois das sessões de gravação). Nos vocais, o lugar de Dead foi ocupado pelo húngaro Attila Csihar (então do TORMENTOR, que havia lançado uma Demo Tape que se tornou clássico nos anos vindouros, “Anno Domini”, de 1988, que posteriormente se tornou CD), que causou certa estranheza por parte dos fãs na época, pois sua voz esganiçada e agonizante não era típica do padrão do Black Metal, mas que acabou criando uma escola, se tornou referência e que encaixou perfeitamente em “De Mysteriis Dom Sathanas”. E verdade seja dita: o disco inteiro é clássico. É preciso dizer que Dead, Necrobutcher, além de Snorre “Blackthorn” W. Ruch também ajudaram com letras e riffs no disco, e mesmo Varg contribuiu, mas como este último declara, a maioria dos riffs são mesmo de Euronymous.
Qualidade sonora: Gravado no Grieghallen Studio, Bergen, entre 1992 e 1993, o disco ficou sob a tutela de Eirik “Pytten” Hundvin para a produção e mixagem (cuja responsabilidade foi dividida com Euronymous e Hellhammer). De certa forma, a “estética do feio” (referenciada por Varg no documentário norte-americano “Until the Light Takes Us”, de 2008, quando o tema abordado é a qualidade sonora dos discos seminais do Black Metal norueguês), que é amplamente utilizada aqui, não está tão crua. Os instrumentos e vocais são compreendidos pelos ouvidos claramente, embora com tons nada convencionais para a época. Existe muito da sonoridade de discos como “Obsessed by Cruelty”, “Persecution Mania” e “Morbid Tales”, mas sob um ponto de vista ainda mais cru e pessoal. É a formalização do manifesto contra as qualidades sonoras cada vez mais limpas e super-produzidas do Death Metal de então.
Parte interna do encarte de “De Mysteriis Dom Sathanas” |
Arte gráfica/capa: A capa é simples, mostrando uma imagem trabalhada em preto e azul da cobertura do lado leste da Catedral de Nidaros (que está localizada em Trondheim, e cujo incêndio ou explosão estava planejado por Varg e Euronymous como parte do lançamento do disco). Não existem informações sobre a formação, letras ou algo do tipo. Somente as fotos de Euronymous e Hellhammer estão ali, além de uma imagem com 3 faces distorcidas em preto e branco. Algo direto e funcional. É óbvio que mais tarde, versões em vinil e mesmo novas edições em CD vieram a trazer letras, mas inicialmente, era seco, reto e direto, sem firulas.
Atilla |
Destaques musicais: Como citado anteriormente, “De Mysteriis Dom Sathanas” é um disco do passado, mas que veio e canonizou o que se denomina como Black Metal, sendo até hoje uma referência do estilo. É uma formatação musical nova, diferente do que havia antes, já que o VENOM estava muito próximo ao MOTORHEAD (assim como o BATHORY em seus dois primeiros discos), enquanto o quarteto (mesmo influenciado pelo trio de Newcasttle) ainda mixa influências do Black/Death Metal e Black/Thrash Metal germânico dos anos 80 com sua própria personalidade. Com todo o respeito a discos anteriores e posteriores, mas o Black Metal ganha uma sonoridade peculiar com o MAYHEM. E esta sonoridade/estética que permeia cada segundo de música de “De Mysteriis Dom Sathanas”.
“Funeral Fog”: o disco começa seco, sem introduções, com um riffs simples e velocidade, até que os vocais aparecem e o ritmo começa a variar bastante. O nível de energia é alto, e empolga o fã por sua simplicidade.
“Freezing Moon”: a mais emblemática das canções do disco. O início lento e sinistro, e encaixa com a ideia de Dead e Euronymous de instigar o suicídio no ouvinte (algo que obviamente era apenas uma piada que virou polêmica e viria a divulgar ainda mais a banda), mas quando a música ganha mais velocidade, percebe-se o ótimo jogo de pratos e viradas da bateria, sem contar o “approach” sinistro dos vocais e as partes terrorosas do baixo.
“Cursed in Eternity”: Outra canção clássica devido ao trabalho dos vocais e partes rápidas. Mas se percebe em algumas partes (especialmente o início) alguns toques de Black/Thrash Metal em seu início à lá SODOM.
“Pagan Fears”: Novamente a influência do Black/Thrash Metal germânico é evidente nos riffs iniciais, mas logo a condução rítmica de bateria e baixo coloca a música no Black Metal puro e simples.
“Life Eternal”: Seca e brutal, essa começa veloz e com muita energia, antes de ceder espaço a tempos mais climáticos e fúnebres. Além disso, os vocais e sua diversidade de timbres dá um toque ainda mais soturno ao que se ouve.
“From the Dark Past”: Em termos de andamento, é uma canção variada e com boas mudanças rítmicas. Mas o grande destaque é justamente a interpretação dada pelos vocais, além dos excelentes riffs.
“Buried by Time and Dust”: nesta, a maior característica é a velocidade estonteante, com um ritmo simples e direto. E é incrível o controle dos ritmos de baixo e (principalmente) bateria.
“De Mysteriis Dom Sathanas”: outra em que o ritmo é (na maior parte do tempo) constante e veloz, e onde vozes em tons normais agoniados contrastam com as vozes agressivas e nasaladas.
Uma queixa 1: até hoje, é inaceitável que tal obra de arte não tenha a clássica “Carnage”.
Uma queixa 2: até hoje, não ganhou uma versão nacional. Vale a pena os selos pensarem nisso.
Uma queixa 2: até hoje, não ganhou uma versão nacional. Vale a pena os selos pensarem nisso.
Conclusão: A sensação de todos ao terminar a audição de “De Mysteriis Dom Sathanas” é a evidente, de que parece que nada veio antes dele, ou mesmo depois, quando se fala no MAYHEM. E além disso, que ele é um clássico atemporal, que mais de 24 anos depois de seu lançamento continua tão inovador e cheio de vida como nos românticos 5 primeiros anos da década de 90.
Tracklist:
1. Funeral Fog
2. Freezing Moon
3. Cursed in Eternity
4. Pagan Fears
5. Life Eternal
6. From the Dark Past
7. Buried by Time and Dust
8. De Mysteriis Dom Sathanas
Banda:
Euronymous (Øystein Aarseth) - Guitarras
Hellhammer (Jan Axel Blomberg) - Bateria
Ficha Técnica:
Pytten - Produção, mixagem
Euronymous (Øystein Aarseth) - Produção, mixagem
Hellhammer (Jan Axel Blomberg) - Produção, mixagem
Attila Csihar - Vocais
Count Grishnackh (Varg Vikernes) - Baixo
Jørgen Lid Widing - Artwork (encarte)
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