Ano: 2019
Tipo: Full Length
Nacional
Tracklist:
1. The Future of Warfare
2. Seven Pillars of Wisdom
3. 82nd All the Way
4. The Attack of the Dead Men
5. Devil Dogs
6. The Red Baron
7. Great War
8. A Ghost in the Trenches
9. Fields of Verdun
10. The End of the War to End All Wars
11. In Flanders Fields
Banda:
Joakim Brodén - Vocais, Teclados
Chris Rörland - Guitarras
Tommy Johansson - Guitarras
Pär Sundström - Baixo
Hannes Van Dahl - Bateria
Ficha Técnica:
Jonas Kjellgren - Produção, Mixagem
Maor Appelbaum - Masterização
Antti Martikainen - Arranjos Orquestrais em "Fields of Verdun", Arranjos Orquestrais na “History Version” do Álbum
Péter Sallai - Artwork
Thobbe Englund - Guitarra solo em “Fields of Verdun”
Contatos:
Site Oficial: http://www.sabaton.net/
Facebook: https://www.facebook.com/sabaton
Instagram: https://www.instagram.com/sabatonofficial/
Assessoria:
E-mail:
Texto: “Metal Mark” Garcia
Introdução:
Falar sobre a guerra é um ato necessário. É preciso deixar como herança das futuras gerações um conhecimento profundo (e real) dos males que elas acarretam. Repetindo as clássicas palavras de uma velha estória em quadrinhos, “na guerra, o único vencedor é a morte”.
Não, ninguém é fascista ou opressor ou outra coisa do tipo porque lida com temas que muitos ficam com medo de tratar (talvez porque possam destruir ilusões). É uma obrigação, e nisso o quinteto sueco SABATONé uma ponta-de-lança, pois lidam com o tema em todos os seus discos. E em “The Great War”, novo disco do grupo, não poderia ser de outra forma. Aliás, parabéns à aliança entre a Shinigami Records em conjunto com a Nuclear Blast Brasil lançam aqui em duas versões: a versão Jewelcase comum e a “hystory version” em versão Digipack, que possui narrativas entre cada uma das canções.
Análise geral:
Desde que conseguiu consolidar e refinar sua fórmula musical na trinca “The Art of War” (2008), “Coat of Arms” (2010) e “Carolus Rex” (2012), além de uma reformulação em suas fileiras pouco depois (somente o vocalista/tecladista Joakim Brodén e o baixista Pär Sundström permaneceram), o Heavy/Power Metal do quinteto não mudou muito, nem mesmo com a entrada do guitarrista Tommy Johansson no lugar de Thobbe Englund (que agora se dedica à banda que leva seu nome, e que acabou de lançar um tributo ao JUDAS PRIEST chamado “Hail to the Priest”). E isso mostra solidez.
Basicamente, é o mesmo jeito melodioso e cheio de energia de sempre, baseado em canções de simples assimilação (daquelas que marcam o ouvinte e que todos cantam nos shows), em cada refrão sendo feito para o bom e velho “bateu, ficou”, e em um fluxo de energia constante e pegajoso.
Mas há uma ambientação alegre e divertida, completamente alto astral, o que é válido em tempos em que, cada vez mais, a música está perdendo esse elemento importante.
Arranjos/composições:
Mesmo percebendo que a banda lapida muito bem suas composições e coloca uma forte carga emocional no que faz, nada em “The Great War” soa complicado ou excessivo. É na justa medida, com guitarras caprichando em riffs marcantes e solos simples (mas eficientes), um trabalho forte e encorpado na base rítmica (baixo e bateria conduzem bem os ritmos e possuem boas mudanças aqui e ali, sem complicar as canções), os teclados atualmente mais criam ambientações do que algo que soe pedante (embora mostrem mais diversidade de timbres); e vocais com sua aproximação grave característica.
Mas ao mesmo tempo, “The Great War” parece mais solto e espontâneo que os discos anteriores, e assim, mais seguro e sólido.
E pela primeira vez desde “Carolus Rex”, os suecos usam o expediente de um disco focado em um conceito único (embora não exista conectividade entre as letras de cada canção de forma objetiva), sendo esse focado totalmente na Primeira Guerra Mundial (que também era chamada de A Grande Guerra ou Guerra das Guerras antes de Segunda Guerra Mundial, e que serão abreviadas para WWI e WWII durante o restante da resenha).
Qualidade sonora:
Pela primeira vez desde “The Art of War”, a banda optou por usar outro produtor, embora não seja um desconhecido. Dessa vez, Jonas Kjellgren (que já está no time desde o ao vivo “World War Live: Battle of the Baltic Sea”, de 2011), que trabalhou masterizando (e mixando os discos ao vivo do grupo) sentou-se na cadeira de comando e guiou o grupo, além de mixar.
Talvez esse seja o ponto da virada, pois a sonoridade limpa e fluida de “The Great War” encaixou com toda ambientação mais leve e solta, mas sem que peso e a devida dose de agressividade fossem deixados para trás.
Aliás, tudo ficou mais bem definido, com tudo audível e apresentando timbres instrumentais excelentes.
Arte gráfica/capa:
O trabalho de Péter Sallai ficou excelente, e na capa, a verdade é clara: só sabe a dor e o desespero que uma guerra pode causar é quem luta nela. Ainda mais a perspectiva for sobre a triste WWI e seu legado tenebroso: os primeiros usos de armas químicas fatais (o gás de cloro, usado pela primeira vez em 22/04/1915 pelo exército alemão, e que matou 5000 pessoas e feriu mais 10000, algo proibido pelas convenções de Haia de 1899 e 1905, início), as aparições de tanques de guerra, aviões, comunicações sem fio, submarinos (durante a fase naval).
É de fazer qualquer ser humano com um mínimo de sentimentos chorar de amarga tristeza...
Destaques musicais:
Gá de Cloro, guerra das trincheiras, Passchendaele (ou Terceira Batalha de Ypres), os genocídios de armênio, gregos e assírios cometidos pelo Império Otomano (talvez os primeiros ecos da Shoá da WWII) e outros são de conhecimento geral e estão associados à WWI, bem como ás tristes lembranças registradas sobre esses nomes e eventos. E os horrores dessa guerra são narrados em “The Great War”. E como sempre, a banda complica a escolha de melhores canções.
“The Future of Warfare” abre o disco com uma canção baseada bastante em teclados simples e guitarras cheia de energia (e a letra narra o uso de tanques de guerra pela primeira vez em uma batalha, ocorrido na Batalha de Flers-Courcelette, de 15 a 22/09/1916), energia essa que permeia as melodias pegajosas de “Seven Pillars of Wisdom”, onde os teclados criam um fundo perfeito para as guitarras e vocais (um refrão marcante, solo bem feito, e a letra remete a Lawrence da Arábia, militar britânico que atuou na Revolta Árabe, de 1916-1918). Em “82nd All the Way”, novamente a banda cria um hit com refrão forte e boas conduções rítmicas (a letra é sobre o ousado sargento Norte-Americano Alvin York, cujos atos heróicos na Ofensiva Meuse-Argonne lhe rendeu as maiores condecorações de seu país a um militar na WWI), e é seguida pela climática e intensa “The Attack of the Dead Men”, cheia de passagens um pouco mais lentas e grudentas (letra: o tema é a dura resistência do exército russo à ofensiva alemã na Fortaleza de Osowiec, uma luta encarniçada que durou meses, e pode ter antecipado o espírito de luta de ambos os países mostrado na Batalha de Stalingrado, na WWII). “Devil Dogs” mostra uma estruturação harmônica e melódica bem semelhante a “Smoking Snakes” (de “Heroes”, de 2014), ou seja, é um Heavy/Power Metal grandioso e empolgante, guiado por uma marcação sólida de baixo e bateria (A letra retrata a Batalha da Floresta de Belleau, de 1-26 de junho de 1918, e que teve uma participação essencial dos fuzileiros navais norte-americanos). As 80 vitórias de Manfred von Richthofen (o aviador alemão conhecido como o Barão Vermelho, o grande ás da WWI), uma canção também grudenta por conta de sua levada simples e direta, mostrando ótimos vocais (além do som de Hammond dos teclados, algo inédito para o grupo). “Great War” é épica e mostra certa melancolia em seus teclados e riffs, sem mencionar o uso de contrastes de partes de teclados e voz com outras mais grandiosas (cuja letra narra a WWI do ponto de vista de quem lutou, ou seja, os horrores e traumas causados por quem esteve no “front”). O sniper Francis Pegahmagabow, atirador de elite canadense e o maior da WWI em sua categoria, é celebrado por sua intrepidez e feitos em “A Ghost in the Trenches”, uma ótima canção alto astral, cheia de um trabalho ótimo de guitarras e vocais. A vitória francesa sobre o exército alemão na Batalha de Verdun (21/02/1916 a 18/12/1916, a mais longa batalha de toda a WWI) é contada na pegajosa e incendiária “Fields of Verdun”, outra em que a energia do grupo estoura os medidores de volume (novamente, guitarras ótimas e refrão marcante). “The End of the War to End All Wars” mostra um lado mais melancólico/épico das melodias do grupo, com ótimos riffs e vocais, enquanto baixo e bateria exibem força nos andamentos (o nome da canção, “o fim da guerra para acabar com todas as guerras” vem de um bordão usado na WWI, antes idealista, hoje meramente depreciativo, e a letra aborda o alto custo da WWI: entre 15 e 20 milhões de mortos). O triste outro “In Flanders Fields” encerra o disco, um lamento poético escrito pelo Tenente-Coronel canadense John McCraeem 03/05/1915, após perder um amigo. Ele é usado até hoje em celebrações pelos mortos na WWI em seus países.
Em um ato de homenagem pelos que perderam suas vidas, eis a tradução do poema:
Nos campos de Flandres, as papoulas florescem
Entre as cruzes, linha a linha,
Que marca nosso lugar; e no céu
As cotovias, ainda bravamente cantando, voam
Escassamente ouvidas em meio às armas abaixo.
Nós somos os mortos. Dias curtos atrás
Nós vivemos, sentimos o amanhecer, vimos o brilho do pôr do Sol,
Amamos e fomos amados, e agora nós jazemos
Nos campos de Flandres.
Assuma nossa briga com o inimigo:
Para vocês, de mãos trêmulas, nós passamos
A tocha; seja sua para elevá-la bem alto.
Se você quebrar a fé conosco que morremos
Nós não dormiremos, embora as papoulas floresçam
Nos campos de Flandres.
Talvez este seja o maior legado de “The Great War” aos fãs: entender ao que conflitos podem levar, e a importância de manter a paz...
Conclusão:
Mesmo com os horrores da WWI, “The Great War” mostra mais uma vez que o SABATON está vivendo um ótimo momento de sua carreira, e que tem tudo para se tornar um dos pilares do Metal dos próximos anos.
Nota: 10,0/10,0
Great War
Fields of Verdun
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