Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional
Tracklist:
1. Anno Domini (intro)
2. Servus
3. Medo
4. O Abismo
5. Dawn
6. Hienas
7. 7 Dedos (Seu Fim)
8. Couro Cru
9. Imerso
10. Lobotomia
11. Fim de Festa
12. E.L.A.
13. Depois de Hoje...
Banda:
Manu Joker - Vocais
Murcego González - Guitarras
Christian Franco - Guitarras
Thiago Soraggi - Guitarras
“Ras” Franco - Baixo, vocais
Marco Henriques - Bateria
Ficha Técnica:
Manu Joker - Produção
Gustavo Vasquez - Produção, mixagem, masterização
Wendell Araújo - Artwork (capa e contracapa)
Marco Henriques - Artwork (encarte)
Contatos:
Site Oficial: www.uganga.com.br
Facebook: https://www.facebook.com/ugangaband/
Instagram: https://www.instagram.com/uganga/
Assessoria: www.somdodarma.com.br(Som do Darma)
E-mail: ugangabr@gmail.com
Texto: “Metal Mark” Garcia
Introdução:
Em geral, as más experiências com bandas geram desânimo, fraqueza, desistência, e então, o fim. Muitos cansam de apanhar dentro do cenário, seja no Brasil ou no exterior, pois fazer música (e tentar viver dela) nunca é algo simples. Mas existem bandas que não aceitam, não se rendem, e usam o caos e provações para se fortalecer e criar música.
Neste grupo, sem sombra de dúvidas, está o sexteto mineiro UGANGA, das férteis terras de Minas Gerais que, depois de realizar um exorcismo de emoções negativas e frustrações no DVD “Manifesto Cerrado”, enfim lança seu quinto álbum, “Servus”.
Análise geral:
Chamar o trabalho do grupo meramente de Thrashcore ou Crossover não lhe faz justiça. Se uma análise da música do sexteto for feita de forma mais profunda, serão percebidos traços de estilos não convencionais (e mesmo alienígenas ao Metal) no meio desse caldeirão musical/cultural que é o trabalho deles. O que se sente nas canções de “Servus” é que a liberação de emoções vista no DVD lhes fez bem.
Sim, até demais, pois apesar do estilo musical ainda ser o mesmo conhecido desde seus primeiros trabalhos, o sexteto soa mais coeso e evoluído, e bem mais solto. Mesmo porque a adição de uma terceira guitarra (com a entrada de Murcego González) deu mais “punch”, mais peso e agressividade, mas ajudou a aglutinar mais influências e certo “groove” ao som do sexteto.
Basicamente, quem já gostava do UGANGA antes, vai continuar gostando; quem não gostava até agora, precisa lhes dar uma chance.
Arranjos/composições:
A essência Thrashcore do grupo é evidente, puxando-os para algo mais direto e reto, mas quando o arcabouço de influências individuais começa a surgir, as músicas vão ganhando mais e mais diversidade em termos de arranjos. O ritmo continua sendo um dos pontos fortes do grupo: justamente por ter um amplo espectro de influências musicais, a diversidade rítmica é enorme.
Os vocais são, como sempre, muito bons. O uso dos timbres agressivos normais é entremeado por urros guturais aqui e ali, fora os backing vocals (que lembram aqueles usados por bandas de Hardcore “Old School”). As guitarras estão ótimas como sempre, mostrando um peso e agressividade, mas sem perder a noção melódica e certo groove latino.
E se preparem, pois eles podem ir de CRO-MAGSa LED ZEPPELIN com direito a toques à lá PANTERA em uma mesma canção de poucos minutos sem pudores. Mas quem conhece esses mineiros, não esperaria outra coisa.
Qualidade sonora:
Gravado, mixado e masterizado no Brasil, “Servus” soa ríspido e cru nas medidas certas para ter o “feeling” orgânico que o grupo tanto busca, mas sem abrir mão de algo feito com qualidade. Sim, tudo soa claro, intenso e pesado.
Mas existe um “segredo” no som do grupo: nada é gravado de forma a buscar os tons instrumentais mais absurdos possíveis. Longe disso: tudo é gravado da forma em que o UGANGA pode reproduzir ao vivo, ou seja, fogem de excessivas edições digitais. Soar cru e com qualidade é isso.
Arte gráfica/capa:
Feita em um digipak muito bonito, a arte de Wendell Araújo evoca a aura rebelde do Hardcore, mas ao mesmo tempo, invocando elementos de ancestralidade afro-brasileira (a figura da capa remete diretamente aos cultos de Cadomblé, Umbanda e outras vertentes da religiosidade em questão).
Destaques musicais:
Melhores canções:
“Servus”: O ritmo em geral não é veloz, com ótimas conduções e backing vocals à lá H.C.N.Y. Mas existem partes bem “sabbáthicas” em alguns momentos (onde os vocais ganham tons mais amenos), partes de “1X1” herdadas do Crossover, e mesmo solos melódicos.
“Medo”: Hardcore à lá CRO-MAGS com o peso de partes mais cadenciadas e mesmo técnicas surgem. É uma música mais simples, direta e empolgante, graças às harmonias bem feitas.
“O Abismo”: Fugindo um pouco do Thrashcore, esta é uma canção longa e de andamento cadenciado, mas empolgante e cheia de ótimas melodias. As guitarras estão excelentes nos riffs, os solos são caprichados, esbanjando toques mezzo Tony Iommi, mezzo Southern Rock. Mas o peso da base baixo-bateria é incrível.
“Hienas”: Uma mistura de Thrashcore com Crossover e a adição pontual de elementos de Death Metal se faz presente, juntamente com momentos percussivos bem encaixados (juntamente com vocais cantando em uma entonação típica do Rapcore). Criativa e esmagadora de ossos.
“7 Dedos (Seu Fim)”: De cara, tem-se um ritmo mais voltado ao Hardcore europeu do início dos anos 80, mas logo surgem partes mais cadenciadas e remetendo ao Metal/Hardcore moderno. Outro ótimo momento da base rítmica, que dá peso e fluência à canção.
“Imerso”: Thrashcore com toques “grooveados” brasileiros de muito bom gosto. É uma canção permeada por uma aura agressiva de bruta, destilando revolta e peso ao mesmo tempo.
“Lobotomia”: Puro Hardcore à lá “Brazilian Way”, pois é uma versão do clássico do grupo paulista LOBOTOMIA. Mas esse “ramake” deles respeitou a original, logo, é uma faixa simples, direta, e agressiva até os dentes.
“E.L.A.”: “Scratches” e batidas programadas se mistura com viola caipira, além de vocais cantados em ritmo de Rap e MPB, e mesmo a presença de vocais femininos é perfeita. É um momento mais experimental, muito bem feito e que ajuda a dar uma folga aos ouvidos.
“Depois de Hoje...”: outra faixa bem experimental, com certo toque de Space Rock, com passagens mais lentas e efeitos eletrônicos. Mas a expressividade densa e agressiva dada pelos vocais ríspidos e riffs brutos.
Conclusão:
Uma verdade no final das contas: “Servus” é realmente fruto de todo processo de superação visto em “Manifesto Cerrado”, bem como uma resposta se a banda deveria ou não continuar (dúvida que eles tiveram na época).
E, diga-se de passagem: ainda bem que continuaram, pois a energia que flui desse disco mostra que o UGANGA é daqueles que faz falta demais.
Nota: 9,7/10,0
Servus
Spotify
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