segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Do Caos para o Caos pelo Caos – Entrevista com CHAOS SYNOPSIS


Por Marcos “Big Daddy” Garcia


Em um tempo em que a mentalidade crítica e a criatividade lírica andam em baixa no cenário nacional, algumas vozes da resistência se fazem ser ouvidas. E entre elas, a do quarteto CHAOS SYNOPSIS, de São José dos Campos (SP), que aborda nas letras de “Gods of Chaos” (2017), seu mais recente disco, temas sobre deuses antigos.

Aproveitando o momento, fomos bater um papo com a banda, saber do passado (especialmente o giro pela Europa), presente e futuro do quarteto.


BD: Olá, pessoal. Antes de tudo, agradeço pela entrevista. A primeira é bem complicada: desde “Art of Killing” (2013), onde abordam alguns célebres serial killers, todos os discos de vocês giram em torno de um conceito único. Como foi que surgiu a idéia de abordar deuses antigos em “Gods of Chaos”? Aliás, tanto em “Art of Killing” como “Seasons in Red” (2015), existe certo toque de realidade, mas ao lidar com deuses antigos, caímos no domínio do mitológico, do abstrato. Por que essa mudança?

Jairo Vaz Neto: Durante a composição do Split, em termos musicais o som “Serpent of the Nile” remete bastante ao Egito, dessa forma procurei alguma história relacionada pra escrever a letra e escolhi o Deus do caos Apep. Daí, a ideia simplesmente me pareceu boa demais, inclusive pra nomear o próximo álbum como “Gods of Chaos”. Além disso, gosto muito de histórias antigas, tanto as reais quanto as que remetem ao imaginário de épocas remotas.


BD: Musicalmente, em “Gods of Chaos”, o lado mais Thrash Metal de você ficou um pouco mais evidente que antes, ao mesmo tempo em que as melodias. Não que já não fossem presentes antes, mas estão mais audíveis. Isso foi uma decisão intencional, ou foi surgindo aos poucos, conforme foram compondo?

Jairo: Um pouco disso e um pouco daquilo, com o Diego veio a parte de melodia, sempre foi algo que gostamos, mas ele soube encaixar os temas do jeito que queríamos, enquanto a parte mais Thrash ocorreu de forma natural, estamos sempre flertando entre o Death e o Thrash nos álbuns e esse acabou pendendo mais pra um deles.


BD: Ainda falando do presente, este foi o primeiro disco de Diego Sanctus como guitarrista da banda. E se percebe que ele ajudou bastante em termos de composição, pois “Black God”, “Badlands Terror” são dele, e “Sixteen Scourges” e “Gods of Chaos” ele ajudou a compor. Ele chegou a mudar algo na dinâmica da banda, ou foi um daqueles famosos “achados e tanto” que vemos de vez em quando?

Jairo: Foi um achado e tanto, já o conhecíamos de sua banda anterior, a qual eu já era fã, e quando entrou parece que já compúnhamos juntos a tempos, tamanha a afinidade musical e a forma similar de pensar musicalmente.


BD: Olhando hoje em dia, quais as maiores diferenças musicais entre os álbuns da banda? Já os músicos estão em constante evolução, existe aquele sentimento de ‘poderíamos ter feito melhor’ quando olham para “Art of Killing” e “Seasons of Red”?

Jairo: Tendo em vista que estamos sempre evoluindo, às vezes ocorre que poderíamos ter feito algo diferente sim, mas, eu não mudaria nada, pois cada álbum é um retrato do momento da banda e naquele momento, tudo que foi gravado nos pareceu o melhor. Então no fim das contas, se queremos algo diferente pras músicas, vamos e compomos mais um álbum (risos).


BD: E como surgiu a idéia de terem Uappa Terror e Wojtek nos vocais em “Black God”?

Jairo: Inicialmente, eu cantaria as partes em polonês da música, mas como estou sempre em contato com os dois, que além de grandes amigos são parceiros de estrada quando estamos na Polônia, resolvi que era hora de termos alguns vocais diferentes e nada melhor que poloneses pra cantar uma música com tema de um antigo deus eslavo.


BD: Mais uma vez, Friggi gravou, produziu e mixou um disco do grupo. É óbvio que ele entende o som do CHAOS SYNOPSIS e faz sempre um trabalho muito bom, mas essa constância vem de uma decisão da banda, para ter controle sobre sua obra, ou uma necessidade?

Jairo: Um mix. Além do conhecimento que ele tem sobre produção musical e eu ter total confiança no trabalho, temos um controle maior sobre a produção, mais tempo pra decidir e testar timbres, sem precisarmos fazer de qualquer jeito por causa do tempo do estúdio ou do custo por hora.


BD: Aliás, contrastando com a qualidade sonora mais brutal de “Art of Killing” e mais bem acabada de “Seasons of Red”, a de “Gods of Chaos” soa mais simples e seca, quase artesanal. Como foi que decidiram por essa sonoridade? Ou foi uma ideia já definida desde o início?

Jairo: Estamos sempre testando e dessa vez quisemos deixar o álbum o mais próximo de um ao vivo possível, com timbres reais dos instrumentos, sem somar muito com produção digital ou samplers, dependendo mais do que saia dos amplificadores do que de retoques no computador.


BD: Vocês optaram pela masterização no estúdio Absolute Master mais uma vez, pelas mãos de Neto Grous. Como é trabalhar foi trabalhar com ele mais uma vez? E isso foi uma consequência do trabalho feito por Neto em “Seasons of Red”?

Jairo: A qualidade que o Neto tem atingido em suas masterizações está sensacional, não apenas por “Seasons of Red”, mas por outros trabalhos que acompanho e que são feitos pela Absolute Master, não houve dúvida na hora da escolha.


BD: Já são passaram-se praticamente 3 meses desde o lançamento de “Gods of Chaos”, logo, já tiveram feedback de fãs e imprensa suficiente para nos contar como ele está se saindo? Aliás, após este tempo, o que vocês acham do CD? Ele atendeu a todas as expectativas de vocês?

Jairo: Eu ainda não voltei a ouvi-lo com calma. Quando gravo um CD, preciso de um tempo longo pra voltar e ouvir o CD como fã e não como música. Quanto a imprensa e fãs, temos recebido boas críticas pela grande maioria, principalmente pela maior adição de melodia, que acho que foi o grande tchan (risos) desse CD.


BD: Falando da tour de Abril: como foi o giro pela Europa? Não foi a primeira vez, então, é provável que o feedback tenha sido bom. Mas não tiveram problemas, já que o CD saiu durante a tour, ou seja, nos primeiros shows, ainda não o tinham em mãos? Sempre existe a famosa busca dos fãs pelos CDs da banda.

Jairo: Na verdade, o CD ficou pronto dois dias antes de embarcarmos, uma correria monstra, então acabamos divulgando bastante o álbum para os fãs europeus. Muitos deles caras que já vimos em outras tours, inclusive com vários fãs levando CDs antigos para pegar um autógrafo, uma sensação muito boa voltar e reencontrar muita gente.


BD: Bem, ainda falando em shows, como estão as coisas? Espero que a agenda esteja lotada. E quando voltam ao RJ? O Bruno Horgy e o Vinícus Hozara estão com saudades do Jairo... (risos).

Jairo: Estaremos no Rio de Janeiro no dia 13/08 no Barril de Pólvora Fest. Estou com saudades do RJ também, temos bons amigos aí, embora alguns gostem de traveco e tal como os dois viadões citados.


BD: Para divulgar “Gods of Chaos”, você lançaram um vídeo oficial para “Storm of Chaos”. Mas o disco é bom demais, logo, existem planos para outro vídeo oficial, ou mesmo um lyric vídeo para a promoção?

Jairo: Temos planos pra lançar pelo menos mais 3 vídeos, ideias já em andamento, fiquem de olho.


BD: No momento atual, a cena Metal do Brasil, já fragmentada por tantas diferenças, sofre com o ódio polarizado por conta da crise política/econômica/ética que se vê nos corredores do Governo Federal de dois anos para cá, fora as reformas impopulares. Como vocês enxergam tanto divisionismo, e agora por conta de partidarismos?

Jairo: Basicamente, ficamos fora disso. Eu particularmente acompanho todo o cenário, tenho minha visão ampla das coisas e não escolho um lado, mas como faço nas redes sociais, prefiro não discutir sobre, até porque o pessoal hoje em dia parece criança “ai, se você não gosta do meu ponto de vista, tô de mal, não fala mais comigo” (risos).


BD: É isso... Mais uma vez, agradeço pela entrevista, e deixem suas considerações finais para os fãs.

Jairo: Valeu Marcão e Metal Samsara, agradecemos o apoio de sempre e se tem uma coisa que nos une a todos é o rock nosso de cada dia. Aproveitemos!

Contatos:


O Metal Samsara gostaria de agradecer à Dunna Records por ter tornado esta entrevista possível.

Veja o vídeo oficial para a faixa "Storm of Chaos", do mais álbum trabalho da banda:


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